domingo, 26 de abril de 2009

Sem rasgar o papel

Um ponto marca a partida, redonda a linha roda sobre si mesma. O circulo engrossa ate rasgar o papel.
Outro ponto, uma fuga apenas, a linha rola e regressa e desenha o infinito que se repisa. Dois circulos apenas, eternamente interligados num vai e vem pendular.
Outro ponto, ou o mesmo ponto, redonda a linha rola e foge. Avanca no papel e volta a rolar. Outro circulo se desenha. Outra fuga, outro circulo.
Ciclos unidos por uma linha nunca repetida. Ciclos que avancam sem rasgar o papel.

Ser e fazer

Somos o que fomos sempre e em qualquer lugar.
Fazemos o que queremos no espaco e no tempo em que vivemos.
Entre visoes e ajustes correm os dias.

Onde defecam as mulheres? - Cronica

Sentada na areia, o sol afagando as costas, o mar lavando os olhos.
Pequenos barcos de pesca salpicam o horizonte e os coqueiros quase beijam o mar.
Uma brisa suave acaricia o corpo saudoso de areia e de sal.
Caranguejos espreitam. Um corvo atravessa o ceu.
Ha um cardume no mar e passaros e homens a caca.
Um grupo de cinco mulheres e um homem aproxima-se da beira-mar. Duas delas sao jovens a quem a idade nao obriga ainda a usar sari. Maos em oracao desenham no ar tres circulos sobre o homem e sobre as outras quatro perfiladas mulheres. Entre as maos esconde-se uma oferenda que e lancada ao mar. As mulheres atiram um pouco de agua sobre as cabecas e o grupo recolhe a terra tao rapidamente como chegou.
Um pescador tenta a sorte sem barco nem cana. Agua pela cintura arremessa a rede ao mar e recuando espera trazer para terra o peixe que fugiu as outras redes. Outra e outra vez se repentem os passos hoje inglorios.
A brisa suave traz consigo um cheiro fetido de outros tempos. A vida aqui e feita de horas de hoje e de praticas de outrora. Os barcos a motor arrastam as redes em frente ao homem que sozinho maneja a rede na praia. Lavatorios de madre-perola e chuveiros reluzentes habitam as casas que os homens, que de cocoras salpicam a praia, desconhecem.
Uma pequena cova feita com o pe, levanta-se o dhoti ou o longui, olha-se o mar e solta-se o desperdicio. Uns passos mais ate ao mar e as ondas fazem o resto do trabalho.
Ritual matutino, vai e vem masculino que diminui a medida que a manha avanca e o dia aquece.
Onde defecam as mulheres?
Marari Beach, Kerala, India

Contar historias

Gostava de saber contar historias.
Historias inventadas pelas vidas dos outros.

Sem rede

O inesperado e o desconhecido tiram-nos a rede na vida e desfazem os planos com que enchemos os dias. Tecemos e desfazemos um plano maior, no qual nos perdemos e encontramos vezes sem fim.
Viver agora. Viver o agora. Caiu a rede e uma inexplicavel serenidade e confianca se instalou. Tal e o poder do Amor.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Balancos

Balancos da vida
Vagas altas
Tempestades
Bonancas.

Tempos curtos
Meus
Tempos longos
Teus.

Rotinas
Tuas
Mudancas
Minhas.

Eu o Mar
Tu a Terra.

Navios derivam
Sem portos de abrigo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fim da linha

Recordo
Sons urbanos,
Dancas das tribos da cidade,
E alcool escorrendo
Pelas paredes dos coracoes vazios.

Recordo
Anseios verdadeiros
De um mundo de artificio
Entre trapezios e compensacoes.

Recordo a fuga,
A sobrevivencia,
O fim da linha.

Irmãos do mesmo sangue

Medos e certezas caminham juntos
Irmãos do mesmo sangue
Qual ser destemido
Que só desconfia de si.

Pairo no som da folhagem
Sem destino
Que não o de aqui ficar.

Sussurros

Aqui nao oico o silencio
Mas as vozes primordiais
Que sussurram palavras doces
Carinhos que nao sei se tive.