terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dei à costa

Dei à costa
farto de nadar sozinho
farto de correntes e vagas
farto de me cruzar com iguais
de olhos brilhantes, reluzentes, ondulantes.
 
Dei à costa
cansado de nadar e não chegar
cansado da caça e das fugas
cansado da rede e dos anzóis
cujas feridas o sal sempre curou ardendo.

Dei à costa
parei de nadar
e agora espero a maré
que me deixará na areia molhada
ainda peixe, ainda vivo
que o que quero é morrer.

Quero que me apanhem fresco
vermelho onde filtro o que também me dá vida
quero me escalem simetricamente
e me deixem aberto, salgado e seco.

Quero que me esventrem, me tirem as vísceras
que me abram de par em par
e me pendurem para secar
que a lareira está longe
e não me poderiam tomar.

Praia das Maçãs, 13 de Agosto de 2011

         Mafalda Mimoso 2010

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A morte cruzou o caminho

A morte cruzou o caminho
os olhos azuis pararam
e do corpo franzino e prostado
saíram espasmos vazantes.

Nunca esquecerei aqueles olhos
mortos antes da morte
inexpressivos sem que a vida
ainda em si os iluminasse.

Embrulhado num sudário
foi levado para que o desacreditassem
E com muita pouca fé nos foi tirado.

Voltámos para casa
sem que a ciência nos tivesse esclarecido
e ao que a ciência ainda não descobriu
apelámos até o dia nascer.

E deu-se um milagre
e o descreditado viu um novo dia
e lá até da fénix se lembraram.

Nós demos-lhe um novo nome
para que a vida que acabara de perder
não contasse para o novo ser
que acabara de renascer.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

30 dias sem escrever aqui

É absolutamente sintomático este interregno. É fruto de um mês de intenso trabalho e de uma semana incompleta de férias na qual ainda se vivem preocupações profissionais, misturadas com mais horas de sono, emoções subterrâneas, inquietações familiares e poucas horas de sol.
Salva-se a consciência do desvio do ser quando longe das letras e das imagens próprias se caminha. Salva-me o conhecimento do equilíbrio em mim.
Salva-me o distanciamento perante os acontecimentos da vida.
Salva-me o derrame da alma e as balizas da razão.
           

Mafalda Mimoso 2011