terça-feira, 29 de abril de 2014

Clarear

O dia está a amanhecer. O céu não está limpo como o meu coração e a minha cabeça. Tenho andado pela floresta à procura dos meus frutos. Gosto de andar debaixo das copas das àrvores e de me arranhar nas silvas. São sempre viagens purificadoras. Cortei a mais funda raiz, da planta mais bonita e com a mais doce fragância. Podei uns arbustos decorativos. Sofriam de um mal incurável. Custou-me cortá-los, mas queria conter o mal. Prejudicava todos. Falta-me agora tratar das plantas novas. Foram elas que me conduziram ao nascer do dia. Como adaptá-las ao novo solo, à temperatura mais alta e aos maiores índices de humidade ocupou-me parte da noite. Gostava que as plantas falassem para reagirem ao quanto lhes quero e colaborar no ajustamento. No entanto, embora não falem, as minhas plantas andam. E não há estaca, canteiro ou cerca que as contenham, se quiserem partir. Hoje vou dedicar-me a uma planta que mal conheço. É robusta, talvez selvagem, parece dar-se bem em diferentes solos e condições climatéricas. É uma planta que me conquistou com as suas florzinhas de cheiro intenso e voraz. Está na estufa há umas semanas. Hoje veremos se a mudo de vaso, se a ponho à entrada de casa, se a ofereço ao vizinho ou se, arrependida, vou trocá-la à loja dos animais.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Rascunho

Hoje rascunhei nas costas de uma multa da Emel um texto diarístico sobre o dia que corre. De trás para a frente, da solidão querida à companhia inusitada. De um espaço recôndito a uma viagem da serra para o mar. De um tempo de pouca esperança a uns minutos inesperados. Tenha eu coragem para a transcrição.