quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Tiraste-me o chão e deram-me o mar

Não vais vir nunca mais
O tempo não vai lá estar
E eu estarei num sonho
que nunca foi o teu.
Tiraste-me o chão
E o mar entrou de supetão
Por entre palavras escritas
Durante o tempo improvável
Traçou uma viagem.

O sonho voltou inteiro
E o monstro voltou com ele.
Empurra-me o diafragma
Aperta-me o estômago.
Atira-me ao chão.

Ao sonho me atiro
E o monstro renasce.
Na proa do barco
Há um marinheiro a chamar.
O sentido chama-se viagem
E viagem implica partir.
Partir implica deixar.

Volta o medo
Quando me dão o mar.
À popa há um coro negro
De velhos e mães.
"Não vás!"
Atiro-me ao sonho
E o sonho sussurra.
Na proa o marinheiro chama
Eu espero entre o passado e o futuro.
Repito ou ouso?

Salto para o mar.
Não há balsa, nem bóia
Nem pai, nem mãe,  nem pesadelo.

Volta o sonho de mar
Volta o sonho de voar.
"Que fazes aí? Volta!"

Devolvo-te o chão
A cama velha
As velas na mesa
Os olhos do marinheiro arpoam os meus.

E vou! Para viver pela primeira vez.
Vence o mar, a viagem e o sonho de mim.