domingo, 18 de março de 2012

Abri as portadas

Entrei na sala escura e colei-me à tela gigante
Abriu-se de pó uma estrada branca na luz quente
Cruzava-se uma diagonal imperfeita,
De baixo para cima, da direita para a esquerda.
Saltei para a garupa seguida de uma carroça
O pó sabia a açucar caramelizado
Os cavalos cheiravam a amoras maduras
E a carga cansada dos tombos queria chegar.
Não sei quem era o homem que me seguia
O focinho colado à minha garupa na falta do mapa
Que nada mais lhe fora dito que seguir e descarregar
Para que se parassem por ora os tombos e as nódoas roxas.
Voei pelas estradas grandes, pairei por baixo das árvores
O verde tomou conta do caminho, o frio da pele
O destino aproximou-se e com ele memórias e sonhos
Mais perto o mar, o papel e os olhares.
Atravessei um lugar medonho, onde se tenta ser feliz
A antiga estrada estreita e a mesma sebe alta e desalinhada
                                                               crescia a meu lado
O portão abriu-se, subiu-se a pequena rampa
A carroça entrou e o homem descarregou.
Vi tudo no chão
Caixas coloridas, livros por ler, roupas antigas,
Quadros queridos, cadernos de notas incompletos
Abri as portadas e de dentro tirei o que não era meu.