segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Circular(es) 1

Ana, deitou-se na cama, mais de sete horas depois, e retirou da mala o que lá colocara, para outra noite em cama alheia: toalhetes desmaquilhantes, escova de dentes, creme de rosto e um corta-unhas para garras alheias. Unhas que a tinham ferido por dentro, garras que lhe fizeram esquecer os pés alheios. Pés que nunca conhecera, por não os conseguir tocar, beijar, incorporar. "Estranho dormir com um homem sem pés", pensou. 
A lua ia cheia de sangue e a caminho de ser escondida, mas atrás da neblina, a luz reflectida iluminava-lhe a grande vidraça do quarto, da cama e da vida. Recebeu a claridade e a força que procurava. Sentiu a sintonia com o Universo e agradeceu.
Ana, tinha recebido, nas últimas horas, tudo o que precisara para não cair, para amar e ser amada, para não ficar só e desamparada. Não há amparo mais leal e seguro do que a amizade. Recordou as conversas com José, Alice, Júlia e Mariana.
Conversas pedidas, que a noite lhe dera sem as esperar. Palavras que foram caminhos para adormecer serena.

Espelho teu

Como pode tudo partir de ti?
Tu avanças, aproximas-te, moves-te
Quando queres, como queres.

És a tua única motivação
És o teu único objectivo.

Dentro de ti o outro nunca existe.

O outro é um espelho de ti mesmo
O outro reflecte o que de ti queres ver.

Que desinteressante é
O que está atrás do espelho
O que está além do espelho
O que no espelho possas ver
Que não sejas tu.