sábado, 19 de dezembro de 2009

Elevados

Para quando, meu amor
Longa e eternamente
Sôfregos nos corpos
Ávidos de palavras
Elevados pelas almas?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Fotografar aqui foi um pensamento verde" - Mafalda Mimoso (Fotografia) Da "natureza morta" até ao tributo aos Pólos, num clamor perante o Aquecimento Global

A Galeria Maria Lucília Cruz convida para a inauguração da exposição de fotografia de Mafalda Mimoso. A artista mostra pela primeira vez em Portugal o trabalho desenvolvido na Índia, país onde residiu nos últimos dez anos.

“Fotografo para tirar historias da minha cabeça. Historias que nascem de entre linhas, formas e cores, e por entre ideias, emoções e ideais. Historias que com palavras não conseguiria ilustrar da mesma forma.
Uso as imagens ou as letras quando umas ficam aquem de si mesmas. Tento mudando as agulhas. As vezes conjugando-as. Os meus comboios viajam em dois, quatro ou mais carris.
Fotografo aqui o gelo e a natureza, das coisas e das pessoas. Fotografo aqui o que os derrete e seca.
Fotografar aqui foi um pensamento verde. Escrever não sei se será”.

De 13 Novembro 2009 a 15 de Janeiro (21 de Dezembro a 5 de Janeiro, por marcação)

Galeria Maria Lucília Cruz
Rua das Salgadeiras, 22, Bairro Alto, Lisboa
Tel: 213 421 135
Tlm: 966 342 955 / 915 096 016
          mafalda.mimoso@gmail.com


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Má consonância

Quem entra pelos fundos e encontra um homem à beira da morte,
Só pode esfacelar-se nas ravinas, olhar o xadrez dos outros
E sair de cena descalça pela praia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Um igual / An Equal

Porque não estás atrás da porta
Sedento de ti
Para em mim beberes
O que guardo só para nós.

Somos
O que mais ninguém
Pode sentir
Luz violeta
Em que te envolvo
Luz branca
Em que me sustento.

Sou muito mais do que um corpo
Não é em mim que tocas
Quando me levantas descoberta
Ofereces-me aos céus
Pedaço de luz
Nada sem ti.

Vamos correr por entre o vento quente
Nus
Apenas nós
Sem camas, nem portas.

Não penso em ti
Que te tenho.
São os que me escapam
Os desconhecidos
Que adoçam os meus tormentos.

Adoro-te
Mulher livre.
Recebes
Quem te venera
Um igual.

Não sou nos dias contados
nas horas cheias.
Não sou por entre as pessoas
nem dentro das roupas.
Sou onde não me vejo
Dentro de ti.

____________________

Why are you not behind the door
Thirsty for you
So as to drink in me
What I save just for us?

We are
What no one else
Can feel.
A violet light
That I envelope you in.
A white light
That I support myself in.

I am much more than a body.
It is not me you touch
When you lift me uncovered.
You offer me to the heavens
A piece of light
Naught without you.

Let us run thorough the warm winds
Naked.
Just us.
Without beds, without doors.

I don’t think of you
You whom I have.
It is those who escape me
The unknown
Who sweeten my torment.

I adore you
Free woman.
You receive
One who venerates you as
An equal.

I am not in the measured days
In the full hours
I am not in the midst of people
Nor within clothing
I am where I do not see myself
Within you.

Seated before you
I adore you.
And since I venerate you
You lift me up with you.

(Tradução Isabel Santa Rita Vaz)

domingo, 1 de novembro de 2009

Outra morte

A manhã acordou escura tal como a noite em que adormecera.
Amarrou-se à cama esperando a morte.
Deu dois passos atrás, colou-se à parede e começou a observar
O corpo recém-emagrecido, o sono curto, a forçada vigília inerte.
Olhar o leito de mais um fim fez discorrer pedaços de vida e ler instruções de suicídios vários.
Olhar o leito de outra morte minimizou o sofrimento e esquissou as próximas.
Mortas se queriam a obrigação, a ansiedade, a inquietação
E os buracos brancos renascidos e virgens.

domingo, 25 de outubro de 2009

Pedido para amar

Quem aprendeu a amar com os gatos gosta do ronronar quente no colo e sente falta do nariz frio. Quem aprendeu a amar com as pessoas gosta da palavra funda e tem saudades dos beijos múltiplos. Tudo carícias de quem pede para amar.

Aforismo - Boas Maneiras

As boas maneiras não se fundam na moral, mas na gentileza da alma.

Fio de prata

A pele está quente, o corpo aberto e os odores soltos.
Voa uma pequena borboleta branca. Regressa e parte.
Gosta do cheiro do sol naquela pele.

Libertam-se os fluídos.
A pele brilha nas curvas e recantos.
Pela nuca desce um fio de prata.
Deslizam dedos por esses lugares frescos.

Intensificam-se os odores.
Inala-se.
Assim fica, repetindo-se.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cavalos alados

Gosto dos olhos, não os que presos às cavidades como os de todos sonham pendurados com mundos maiores que a sua máquina. Gosto dos olhos estelares, à vez vermelhos, azuis e brancos. Cavalos alados que oferecem o sonho.

Conter reflexo ou a miragem do oásis

O elástico tende e distende e não serve à contenção. Estica para além do improvável mas nunca encolhe àquem de si. Conter transitivo é ter dentro de si, encerrar, incluir. Conter reflexo é reprimir, coartar, violentar. A contenção encolhe, reduz, amarfanha. E quando a contenda é invisível esvaiem-se os limites do sujeito e do objecto. Confundem-se no amor e no ódio, na liberdade e na usurpação. Suga-se até à última gota, na miragem do oásis.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ouse, Lou-Salomé


"Ouse, ouse... ouse tudo!!

Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"
















Lou-Salomé

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sintonias

Sintonias são momentos frágéis, frequências precisas, cristais delicados
Sinais de fumo, que só os mensageiros descodificam.

Centro do Mundo

O corpo tingiu o que as palavras teceram
Os sentidos proibidos demoliram o templo
Os pólos inverteram-se
E com eles o movimento.
A terra nunca foi o centro do mundo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Exorcismo

Falta-me o padre e a lingua verde,
Que ja tenho as feridas abertas no rosto
E o coracao disforme.
Escrever cansa-me.
Desistir é morrer de mim,
Fenix até ao fim de ti.

domingo, 23 de agosto de 2009

Love, by Aakritee Bhandari Sinh

Love never dies a natural death. It dies because we don't know how to replenish its source. It dies of blindness and errors and betrayals. It dies of illness and wounds; it dies of weariness, of withering, of tarnishing. If you have love in your life it can make up for a great many things you lack. If you don't have it, no matter what else there is, it's not enough.
Love, like truth and beauty, is concrete. Love is not fundamentally a sweet feeling; not, at heart, a matter of sentiment, attachment, or being "drawn toward." Love is active, effective, a matter of making reciprocal and mutually beneficial relation with one's friends and enemies.

Love is patient, love is kind.
It does not envy, it does not boast, it is not proud.
It is not rude, it is not self-seeking.
It is not easily angered; it keeps no record of wrongs.
Love does not delight in evil, but rejoices with the truth.
It always protects, always trusts, always hopes, and always perseveres.
Love never fails.

Where love rules, there is no will to power; and where power predominates, there love is lacking. The one is the shadow of the other.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Cavalo de letras

Desconheco os olhos, nao sei se mentem ou se anseiam.
Desconheco os dedos, nao sei se tocam ou se deslizam.
Chega e parte sem aviso, sempre montado num cavalo de letras.

Olhos vitreos

Ela conhece apenas os olhos grandes e vitreos que escrevem as palavras. Olhos sem cheiro, sem textura nem movimento, cujo som que lhes ouve e tao somente o da sua propria voz. Sao olhos vagabundos, presos ao acaso entre outros corpos. Olhos que confessam passados incompletos e amores compensados. Olhos que contam historias de outras mulheres e a levam para a cama com elas. Olhos que viajam sem partida nem regresso e buscam improvaveis aparicoes. Olhos que contam historias pela manha: verdades inverosimeis que alargam os dias incomensuravelmente.

Ficcao

O dia chegou mas ele nao. Escondido atras das palavras e dos silencios imaginou-o. Desenhos invisiveis de um homem que so nela existe. Fora do tempo e do espaco, ficcao pura, escrivivel e realizavel, paginas e footage de uma vida irreal. Prendeu-o nas palavras para o reler. Tracou-o em imagens para o rever.

domingo, 2 de agosto de 2009

Aqui - Sophia de Mello Breyner Andresen

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente

Deixou-se ficar

Figure of a woman studded with broken tiles at the Rock Garden, Chandigarh, India.Aman Sharma/AP

Feita de pedacos de vidas suas
Saltitante entre as pedras do riacho
Dois pes agora
Um aqui, outro sem saber depois.

Levantou devagarinho a perna
Ainda debaixo de agua sem ninguem ver.
Que fazer agora?
Talvez parar, talvez conter.

Deixou-se ficar.

O melhor de dois mundos

Agosto. Domingo. Duas horas da tarde. Hanna Montana, O Filme para as meninas. Idade do Gelo 3 para os meninos. Antes fosse um Ola e eu nao teria ficado deprimida.
Gosto de cinema, muito, e filmes como este - Hana Montana, O Filme, que sou menina, embora alguns desconfiem - abatem-me, enfraquecem-me.
Preferia que as minhas filhas nao tivessem de ver filmes assim. Nada contra os idolos, nem destes para criancas. Nada contra as respectivas series de tv. Nao dou muita importancia aos primeiros, nem tenho a ultima. Antes os Transformers. Venham os Spidermen. Dos filmes de animacao nao falo, que neste reino sao seres superiores, mesmo quando os esticam ate tres e os enchem de remakes.
Sera que nao se podia ter feito um filme de jeito com esta menina e ate com a mesma ideia? Melhor argumento, melhor fotografia, melhor realizacao? Da musica nao falo que e qualidade da rapariga americana e modus operandi da vedeta. Sera que a culpa e do publico alvo, no qual a forca me incluo e na mouche fui baleada?
Esta visto que ter o melhor de dois mundos e so privilegio da Montana.

http://www.youtube.com/watch?v=Mioye_xjb1g&feature=channel

sábado, 1 de agosto de 2009

Equal
















Why are you not behind the door
Thirsty for yourself
So as to drink in me
What I save just for us?

We are
What no one else
Can feel.
A violet light
That I envelope you in.
A white light
That I support myself in.

I am much more than a body.
It is not me you touch
When you lift me uncovered.
You offer me to the heavens
A piece of light
Naught without you.

Let us run thorough the warm winds
Naked.
Just us.
Without beds, without doors.

I don't think of you
You whom I have.
It is those who escape me
The unknown
Who sweeten my torment.

I adore you
Free woman!
You receive
One who venerates you as
An equal.

I am not in the measured days
In the full hours
I am not in the midst of people
Nor within clothing
I am where I do not see myself
Within you.

Seated before you
I adore myself.
And since I venerate you
You lift me up with you.

Goa, India, 2004

I love you. My children.

The heart grows,
Pushes against the lungs,
Knocks against the bones,
Ruptures the skin.

How I wish you would feel my Love
In my embrace.
Huge
Transcending us.

I plunge into your eyes
So that you may sense me
Whole within you.
For ever
In an eternal leap.

I do not wish to dish out food on to your plates
I do not wish to teach you to read and count.
I wish to kiss you
To cling to you
Invisible
Priestly
In the same geminal love.

Goa, India, 2004

Terceira Pessoa

Singular ou plural sao sinal de distanciamento, espaco, libertacao. O eu e um chato e o tu uma projeccao. Eu, tu, eu, tu, eu. Eu, eu, tu, tu, tu. Desinteressante, monotono, maternal.
Chegara o dia em que eles e elas dominarao a minha vida e nada de mim se sabera.
O eu oculto finalmente podera rir.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sordidez II

Gosto de ler dicionarios. Procurar a palavra que rodopia na minha cabeca e seguir onde tal barco me leva. Deixei de os fazer de papel e hoje ja so viajo ao sabor das teclas e das hiperligacoes.

Sórdido e adjectivo e este substantivo masculino e tambem adjectivo. Gosto quando as coisas se misturam e o que e pode ser diferente ou o mesmo ser. Adjectivo acompanha, qualifica ou determina. Epíteto, atributo, acessório. Que se junta.

Adjectivo determina. Demarca os termos ou os limites. Indica com exactidão. Delimita. Faz a diferença. Tenta persuadir, resolver e ordenar. Filosoficamente condiciona de modo necessário e suficiente e matematicamente encontra, acha a solução. Determina-se quem se decide, quem assenta ideias, preconceitos, moralidades, prazeres, desgostos e indiferencas.

Adjectivo e epiteto, nada mais que outra forma de realcar entre alcunhas, impropérios, ultrajes e vitupérios.

Adjectivo e atributo. E este o que é próprio ou peculiar de alguém, seu sinal distintivo, boa ou ma qualidade. Sua condição e símbolo. Filosoficamente propriedade essencial de uma substância e logicamente numa proposição designa o que se afirma ou nega acerca do sujeito.

Adjectivo e acessorio. O que ou aquilo que se junta por acessão, acrescentamento ou adicao. Não é fundamental. Mero anexo.

Sordido e entao sujo, imundo, repugnante, vil, torpe, baixo e mesquinho.

Assim sao as entranhas ainda que embrulhadas em papel de seda.
Assim sao os ensinamentos enfeitados com lacarotes purpura.
Assim e a clausura enrolada em fitas douradas.
Assim e a intimidade dos que nao tem decoro.

Adjectivo e um acompanhante barato. Nao se casa, junta-se.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O que hoje nao escrevi

Jardinei sem detalhe
No ar escrevi o que ja nao recordo
E cansei o corpo com dores que ainda sinto.

Escrevi sobre o que ouvi
Sobre o que li e discordei
E delineei personagens que ja perdi.

Adormeci sem intencao
Deixando soltos os pensamentos
Que babei e nao gravei.

Cortei o cabelo
Para me libertar do passado
E ganhar forcas que nao usei.

Acabo o dia
Escrevendo sobre o que nao escrevi.
Desmesurada inutilidade.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sordidez I

Sera sordido mergulhar nas cascas das laranjas do sumo dos ricos
Ou beber o leite do prazer?
Sera sordido vestir roupas velhas e fedorentas
Ou colar um vestido ao corpo desejado?
Sera sordido dormir enrolado em cartoes
Ou de cetim sonhar os lencois que nao sao seus?
Sera sordido apenas dormir sem nada comer
Ou sem dormir apenas oferecer?
Sera sordido viver acobardado
Ou correr nu ainda que acocorado?
Sera sordido olhar o mundo num ecran plano
Ou abrir a perna e saltar mundano?
Sera sordido repousar na almofada fofa
Ou gritar erguendo a testa?
Sera sordido mentir e dissimular
Ou cair na merda e chorar?
Sera sordido agir
Ou calar?

Negro e Sangue

Sao estas as minhas cores.
O negro poderoso e denso.
O sangue quente de boi.

Escrevo a preto
Em pretenciosos cadernos
Pretos e vermelhos
E visto-me de morte e sexo
Chorando as mesmas lagrimas.

Convido touros e cavaleiros
Homens pelo seu pe
Amazonas e sevilhanas
Para na minha arena renascerem,
Os dentes brancos ensaguentarem
E o sexo negro revelarem.

Do mesmo buraco preto
Entre sangue e gritos
Renascem todos
Anfitria e convivas.

Esses sao os partos que procuro agora
Prenha de homens e ideias
Nado-mortos e negros
Vidas brilhantes e ensaguentadas.

Alma limpa

E de manha que limpo a alma
dos ruidos dos dias
e do lixo da minha noite.

Os sonhos sao os meus companheiros
Ouvem-me e conversam-me
Empurram-me e escancaram-me.

Os sonhos sao os meus mestres
Avisam-me e recordam-me
Iluminam o que a luz esconde.

Sao negros e fundos
Vermelhos e quentes.
Sao luto e medo
Sangue e vida.

Os sonhos sao terriveis piratas de gancho
Cuja vitima nao largam
Ate que rendida ou fugida a desvanecam.

Os sonhos sao farois longos e luzes altas
Raios frios e de regresso
Afasta-te! Aproxima-te!

Sao lingas sagrados
Sinais antigos
Lugar de ritos.

Limpam-me a alma.

Vinicius de Moares

«Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão. »

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Preciso te ti para escrever

Escrever é uma necessidade, uma vontade antiga enlaçada dentro do turbilhão e da voragem, presa nos pantanais negros e fedorentos. São os homens e o homem que a fazem escrever, os mesmos que lhe roubam o discernimento e o engenho. E ignorante continua a procurar a calma interior e a clareza de espírito. Não sabe fazer surpresas e só gosta das agradáveis. As más sabem a desilusão, da qual só ela expia a culpa. Despojo de guerra, violentada, mordida, dilacerada. Pedaços de reflexão mantidos com esforço, arrancados depois de tanta guerra só. A decepção do desperdício e da indiferença. Dor maior a do desrespeito, a da dignidade ferida. Só a da perda e do abandono a suplantam.

Ela está prestes a afundar-se. No último minuto, enche o peito de ar, ergue os olhos, procura no fundo de si as últimas forças e salta. Arrisca e acorda no mar alto e fundo. Terra não se avista. Fica para além. Marca um rumo. Inicia a viagem. A nado, devagar, braçada após braçada, bebendo a distância. Calmamente e sem esforços vãos. Flutuando sempre que o corpo pede ou os pensamentos obrigam. O importante é chegar. Dias de solidão sim, passados consigo quando o eu já não se suporta. Viagem à redescoberta de si, para reconstruir alicerces. Tempo de remodelação. Olhando fundo, seguindo as estrelas em direcção à sua costa. O tempo passa e a tão ansiada praia finalmente se avista, já que de sereia só tem o canto. O caminho final é percorrido com igual vagar, sem inquietações. O entusiasmo há muito perdera o sentido. A chegada, a alegria e o contentamento previsíveis não se fazem sentir. Na sua vez, a tranquilidade e a expectativa paciente. Talvez só cansaço. Nem isso. Cansada estava antes de iniciar a viagem. Agora sentia-se cheia de objectivos e forças. A obstinação e perseverança doentias, a incapacidade de desistir foram substituídas pela vontade de viver hoje sem miragens de futuros. Morta estava a impossibilidade de agarrar o devir. Autónoma: cada pedaço de si, cada palavra, cada acto eram o seu retrato fiel. Sentia-se coerente consigo própria, longe da perfeição e dos cânones. Havia chegado a terra há já algum tempo, travara conhecimento com outros homens e outras mulheres. Momentos novos e sublimes, efémeros para Cronos, eternos para a alma. A tal paz interior, descobrira, não era mais do que o fruto da indiferença, do descomprometimento. Vivia ao sabor da sua maré. Maré que a arrastava rio acima, para longe do mar. Cada dia mais terra a dentro, perdendo o ânimo e crescendo o desalento. Sem o prazer da descoberta e da aventura, resolveu amurar num lago de águas paradas, em cujas margens haviam disponíveis convívio e diversão. Despreocupados corriam os dias e as outras margens quebravam a monotonia. Sabia o que queria. Sabia quais os riscos a correr. Mas só muitos anos mais tarde viria a saber que dentro de si já tinha a coragem e a forca para os assumir. Sabia que seria posta a prova. Talvez vezes sem conta, que não se conta o que ela queria viver. Sabia-se perto, cada vez menos esquiva. Dado estava o primeiro passo. Rumo ao que desconhecendo queria. Eram dias de angústia. O passado hipotecara-lhe o futuro e o presente sabia disso. Não lhe restava outra saída senão a morte ou deixar-se viver. Não lhe faltava coragem, mas sim desprendimento e leveza de espírito. Acusada que era de ser complicada e difícil. Demasiado intensa e profunda. Os pântanos e os céus eram a sua fraqueza. Faltava-lhe deixar cair o véu. A tudo resistir, por querer ou por se obrigar, manchara-lhe as vestes. “Lava-me”, não conseguia ainda suplicar. Tentara subtil e agressiva, mas entendimento não encontrara. Sozinha ficara, obrigada, obrigando, obrigando-se. Pedir ajuda não se podia, que os que se procuram são os fortes de espírito. Serão eles os que nunca vergam? Os que não vacilam perante as tempestades? Ela sabe que o seu caminho é o da verdade e da manifestação. Fingir já não consegue. Não mais se trairá.

Oeiras, Setembro 1989

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Creio - Natalia Correia

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amén.

sábado, 11 de julho de 2009

Bracos em cruz

Acordei abracada ao meu pescoco
Nao e afago proprio nem resto de sonho
E medo fundo, o mais antigo que desconheco.

Cotovelos em riste
Prontos a furar qualquer peito
So, sem lagrimas e triste.

domingo, 26 de abril de 2009

Sem rasgar o papel

Um ponto marca a partida, redonda a linha roda sobre si mesma. O circulo engrossa ate rasgar o papel.
Outro ponto, uma fuga apenas, a linha rola e regressa e desenha o infinito que se repisa. Dois circulos apenas, eternamente interligados num vai e vem pendular.
Outro ponto, ou o mesmo ponto, redonda a linha rola e foge. Avanca no papel e volta a rolar. Outro circulo se desenha. Outra fuga, outro circulo.
Ciclos unidos por uma linha nunca repetida. Ciclos que avancam sem rasgar o papel.

Ser e fazer

Somos o que fomos sempre e em qualquer lugar.
Fazemos o que queremos no espaco e no tempo em que vivemos.
Entre visoes e ajustes correm os dias.

Onde defecam as mulheres? - Cronica

Sentada na areia, o sol afagando as costas, o mar lavando os olhos.
Pequenos barcos de pesca salpicam o horizonte e os coqueiros quase beijam o mar.
Uma brisa suave acaricia o corpo saudoso de areia e de sal.
Caranguejos espreitam. Um corvo atravessa o ceu.
Ha um cardume no mar e passaros e homens a caca.
Um grupo de cinco mulheres e um homem aproxima-se da beira-mar. Duas delas sao jovens a quem a idade nao obriga ainda a usar sari. Maos em oracao desenham no ar tres circulos sobre o homem e sobre as outras quatro perfiladas mulheres. Entre as maos esconde-se uma oferenda que e lancada ao mar. As mulheres atiram um pouco de agua sobre as cabecas e o grupo recolhe a terra tao rapidamente como chegou.
Um pescador tenta a sorte sem barco nem cana. Agua pela cintura arremessa a rede ao mar e recuando espera trazer para terra o peixe que fugiu as outras redes. Outra e outra vez se repentem os passos hoje inglorios.
A brisa suave traz consigo um cheiro fetido de outros tempos. A vida aqui e feita de horas de hoje e de praticas de outrora. Os barcos a motor arrastam as redes em frente ao homem que sozinho maneja a rede na praia. Lavatorios de madre-perola e chuveiros reluzentes habitam as casas que os homens, que de cocoras salpicam a praia, desconhecem.
Uma pequena cova feita com o pe, levanta-se o dhoti ou o longui, olha-se o mar e solta-se o desperdicio. Uns passos mais ate ao mar e as ondas fazem o resto do trabalho.
Ritual matutino, vai e vem masculino que diminui a medida que a manha avanca e o dia aquece.
Onde defecam as mulheres?
Marari Beach, Kerala, India

Contar historias

Gostava de saber contar historias.
Historias inventadas pelas vidas dos outros.

Sem rede

O inesperado e o desconhecido tiram-nos a rede na vida e desfazem os planos com que enchemos os dias. Tecemos e desfazemos um plano maior, no qual nos perdemos e encontramos vezes sem fim.
Viver agora. Viver o agora. Caiu a rede e uma inexplicavel serenidade e confianca se instalou. Tal e o poder do Amor.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Balancos

Balancos da vida
Vagas altas
Tempestades
Bonancas.

Tempos curtos
Meus
Tempos longos
Teus.

Rotinas
Tuas
Mudancas
Minhas.

Eu o Mar
Tu a Terra.

Navios derivam
Sem portos de abrigo.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fim da linha

Recordo
Sons urbanos,
Dancas das tribos da cidade,
E alcool escorrendo
Pelas paredes dos coracoes vazios.

Recordo
Anseios verdadeiros
De um mundo de artificio
Entre trapezios e compensacoes.

Recordo a fuga,
A sobrevivencia,
O fim da linha.

Irmãos do mesmo sangue

Medos e certezas caminham juntos
Irmãos do mesmo sangue
Qual ser destemido
Que só desconfia de si.

Pairo no som da folhagem
Sem destino
Que não o de aqui ficar.

Sussurros

Aqui nao oico o silencio
Mas as vozes primordiais
Que sussurram palavras doces
Carinhos que nao sei se tive.

domingo, 29 de março de 2009

Detachment, desprendimento, desapego...

Ontem percebi que posso viver em qualquer lugar do mundo onde sinta um proposito e algum bem-estar. Nao pertenco nem aqui nem ali e tal nao me incomoda, pelo contrario deixa em mim uma satisfacao leve e funda. Nao pertenco a lugares. Pertenco a mim, aos valores em que me construo e aos ideais que me propelam. Portugal faz parte de mim, no que de seu resta em mim, mas deixei de pertencer a este espaco, ajusto-me e gosto. India apoderou-se de mim sem aviso, onde crava sulcos indeleveis. Valas onde correram aguas tempestuosas e finos fios de de prata. India consumou a transformacao inevitavel e ofereceu-me um tempo de descoberta e de vitoria. Na India ressuscitei ou renasci ou apenas nao morri.
Observo-me a mudar. Desapego-me dos lugares, desprendo-me de mim. Eu sou aquela, alem, a sobrevivente, que pondera novas escolhas, novos objectivos. A vida chegou, finalmente.

Yesterday I realized that i can live anywhere in the world where i feel a purpose and im confortable with. I don't belong here nor there and that doesnt bother me, on the contrary it leaves me a light and deep satisfaction. I dont belong to places. I belong to myself, to the values im built of and to the ideals that keep me on the move. Portugal is part of me, in what of it remains inside me, but i dont belong to this space anymore. I adjust and i like that adjustment. India has taken possession of me and has digged deep channels, where stormy waters and shinny streams have flowed.
(...)

sexta-feira, 27 de março de 2009

Gostava de dizer nao sei quando estou confundida. E ficar por ai.

Nada me seduz mais do que a surpresa de mim mesma. Equacionada a questão, descoberto o ponto chave, desconhecida a solução deveria dizer não sei, e ficar por aí.
Nao fico. Gera-se um fascínio, uma espiral de possibilidades. Melhor que nao saber é ir à procura.

Lugares de passagem. Ou serão de partida?

Gosto de aeroportos, estações de comboio, paragens de autocarro. Onde gente chega e parte sem cessar. Lugares de passagem. Onde quem parte espera, onde quem chega é esperado. Houve tempos, em Lisboa, onde depois de 6 meses sem voar olhava os céus e pensava: está na minha hora; que saudades de partir. Lugares de passagem encerram em si uma simbologia de iniciação. Não chego a tanto. Só sei partir, mudar de lugar. Escrever faz-me gostar de esperar. Olhar, e registar de imediato o que vejo, altera o tempo, muda a velocidade dos ponteiros do relógio.
À minha frente, com os pés em cima das malas um homem lê um livro de páginas amarelas e capa mole. À sua esquerda sentou-se um casal alemão. Ele careca, mais velho do que ela. Ela magra, sem ancas, enfiada numas calças de ganga que lhe deixam o rabo quadrado. Chegam sem palavras, sentam-se em silêncio, trocam palavras ríspidas e secas. De novo o silêncio.
Somos três, os que teclamos em computadores portáteis. Um indiano com os dedos cravejados de anéis de várias pedras - cada um para seu chackra e vários para o sucesso e dinheiro - não pára de falar ao telemóvel. Entre mim e o senhor do livro de páginas amareladas acaba de se sentar outro firangi (estrangeiro em hindi). Cabeça rapada, camisa branca, calças de ganga, casaco beje, anel de brazão. Óculos de massa pretos e touchphone, no qual os dedos grossos tocam sem cessar. Por baixo das mangas do casaco, até aos pulsos e sabe-se lá desde onde, uma enorme e escura tatuagem parece combinar com o azul do denim.
Está tudo calmo, silencioso e limpo. O lugar é novo, amplo e minimal. Não há duvidas que a estética, a arquitectura e o design podem mudar comportamentos e mentalidades.
Bangalore, 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

My first comments to Sanjay's post on corruption and democracy

"Impressive. Very well written.

Just 2 comments:
1. No matter what level of economic development a country achieves it will never be 100% clean, eg. France/Mitterrand n so many more examples of "1st" countries that I don't remember now. Of course countries are and can be cleaner.
2. Regarding doing "small things like telling our children what is right, that there is merit in honesty, that the country matters, that ethics matter." Please don't only tell, please DO. TRUE EXAMPLE COMES FROM ACTION. Show them that can be done, that it is possible.

I've met in my life very few people who were not corrupt in spite of being in posts where they could have earned lots of money. They have chosen to live simple lives and they and their family "suffered" with their decision. Knowing that it is possible, that are people who are able to say no, seeing people saying no, makes all the difference.

Thx Sanjay"

segunda-feira, 16 de março de 2009

Corruption and Democracy in India and elsewhere

The text that follows was written by a friend, an Indian civil servant. For those you are closer to India his thoughts will be easier to understand, but all who think about politics, democracy and corruption will be, for sure, able to relate with what he wrote. It starts off as a reaction to a video campaign against corruption that was launched in India but goes deeper and wider. Hope you like it as i did.


"While I liked the brilliance of the message conveyed by the ad by Alok Mittal, I wonder what the "target audience" would be? It will be seen by the masses and the masses would nod and agree. We will spit on the politicians and call them snakes or dung, as we like. But alas! It will not be seen by the ones who are going to select party candidates for elections. Even if they see this film, they won't get influenced.

To think of it, apart from appreciating this great ad at an intellectual / artistic level, how many of us would be giving the whole question a serious thought and try to find out the root cause of the whole problem? Even if we do, how many will be willing to do anything? Because it would require sacrifices - giving up jobs, education - even normal family life. At least I won't be willing to pay that cost. And I don't know any friend who will be, or whose family would allow that.

The reason why this or any such ads won't change the way candidature is decided?

Because a "politician" in any democracy doesn't drop from an alien star. He or she is always from amongst us and represents the true median value of the constituency. No matter how distasteful that thought, it is the truth.

When any "high command" sits to discuss the list of possible candidates for any seat, they have dozens of lobbies influencing them. These lobbies consist of influential people from the constituency under consideration. These are "grass-root" level influencers - the guys who connect with the common man / woman, take out processions, campaign, talk to people, fund campaigns, create ads, slogans, logos, banners - threaten, cajole, brain-wash, entice, convince the masses. They are the real mouthpieces of the "aam adami" who cannot be ignored.

In a Brahmin dominated constituency, no one will give ticket to a non-Brahmin educationist / saint / social worker. Because they know the janta would rather vote for a Brahmin criminal than a dalit saint. Reason? The majority vote bank would have several "holds" on a Brahmin than they would on a dalit. The candidate would be someone's son, nephew, brother, cousin, relative, friend ... The dalit would be an outsider. The same is true of religious, ethnic, social faultiness. After getting him elected, it would be far easier to get "work" out of someone from ones own community/social strata / religion / group than from someone from another.

In elite South Mumbai constituency, the voters from Pedder Road or Malabar Hill wouldn't want a "slumdog" to represent them. They would want a suave, "cultured", seemingly smart person. They would prefer sons of ministers, actors, etc. even if there are criminal charges against those candidates. In Dharavi, they won't want a builder from Nariman Point. From Shivaji Park or Dadar they won't want a Bihari and in Patna they won't want a Marathi Manush. That's the way it is.

Yet, a Kashmiri Brahmin (Indira Gandhi) had won a resounding victory in Chikamagalur, Karnataka while a Manglorean (George Fernandes) has long been representing Muzaffarpur in Bihar. Because the locals accepted them.

No high command can ignore the majority stakeholders' interests / inclinations / preferences. Wherever they do - their candidate loses. Not because of ancient things like "booth capturing" or "bogus votes" (these things don't happen now, except in rarest of rare circumstances - thanks to the might of ECI) but because of people's resounding mandate against the "wrong" choice in giving tickets.

Then again comes the question of who is a "criminal"? It is said one man's terrorist is another man's hero. If we look at the North East, so many of their leaders had been "militants" in their youth. They had charges of murder, arson, loot on them. In Jharkhand - several tribal leaders who fought the "system" and non-tribals to create the state have criminal charges against them. But didn't Shahid Bhagat Singh hang for "treason"? Is every Naxal a "criminal"? When we take away someone’s livelihood, self-respect, home and he takes to violence, he becomes a criminal. But aren't we also equal criminals?

Then we have candidates who have amassed disproportionate assets. Maybe we consider them worse kind of criminals - thieves who steal from the nation. But if you ask any economic investigative agency in India, there are hundreds and thousands of normal people - doctors, educationists, businessmen, journalists, lawyers, painters, movie stars ... who have all been caught trying to evade taxes, cheating not a few people but the entire nation. Do we boycott a film star who has been raided? Or a doctor who has been penalised for wilful evasion? Or stop buying a product of a company which has broken laws?

No.

Just as every software entrepreneur is not Raju, every Army officer is not Lt. Col Shrikant Purohit (Malegaon case), every broker is not Harshad Mehta, every cricket player is not into match fixing, every businessman is not Moninder Pandher (Nithari serial murders), so also every politician is not evil. Because a politician is not a different specie.

We tend to project our internal flaws, distortions and lump it on politicians because it is so much more convenient for our own conscience. How many of us can claim NEVER to have violated any law / statute, used influence, contacts, done "PR", taken favours or given favours, got carried away by self interest, been greedy or covetous, secretly lusted after someone, or given "bribes"? And we all know that by the Indian "law" giving and taking bribe are both "crimes". But how easily we hide behind the phrase, "But what else could I do? If I didn't pay the bribe, my work wouldn't have been done - I would have faced so much hardship." True.

It is the same reasoning businessmen would give for "funding" political parties. "Otherwise our business would have suffered." - Read it as "Otherwise we wouldn't be able to make as much money from our businesses."

That is why Gandhi said only the true brave can insist on truth or on non-violence. Only those who were capable and willing of taking a personal hit - of making great sacrifices. How many of us are thus?

Christ said, "Let him who is without sin, throw the first stone" and silenced a crazed crowd.

So, if we care for this great democracy of India - our motherland - we must look inside our own souls and throw out our worms. The "system" would get cleaned itself. The "system" is nothing but the sum total of individuals.

But a poor man will first worry about his food and shelter - only after that would he worry about hygiene. Similarly, till India reaches a certain level of economic development, our mass ethics will never be clean and consequently our mass based politicians - our "representatives" - will never be clean. Non mass based politicians like Manmohan Singh are already clean.

We can all do small things like telling our children what is right, that there is merit in honesty, that the country matters, that ethics matter. We can confess to the "wrongs" we have done and warn our children against it. We can start with avoiding small temptations to do small wrongs. Only this will eventually bring a change.

No its not a glamorous way of bringing change nor a quick one. But eventually only that will succeed.

I am reminded of Barak Obama's speech: ""Change will not come if we wait for some other person or some other time. We are the ones we've been waiting for. We are the change we seek."

The question each one of us should ask ourselves is, "Am I the leader my country should follow?" In my case, my soul answers, "NO!" And most people consider me a "decent" fellow. The problem is there are thousands of people who, when they ask this question get the answer from within: "YES! YOU ARE THE PERFECT LEADER FOR INDIA." And most of them are not half as "decent" as me.

But they are the ones who step out on the crease and bat for you and me. While I - and countless other armchair idealists like me - are happy to sit in the stands and clap or boo as the occasion demands.

Just as the Buddha wasn't the last great leader in India, or Ashoka, or Akbar, or Gandhi, so also I am sure there will be another one.

I remain hopeful, like Iqbal who wrote the immortal lines:

Unaan-o-Misr-o-Roma Sab Mit Gaye Jahaan Se
Ab Tak Magar Hai Baaqi Naam-o-Nishaan Hamaara

Kuchh Baat Hai Ke Hasti Mit-ti Nahin Hamaari
Sadion Raha Hai Dushman Daur-e-Zamaan Hamaara

[ Greece, Egypt And Rome Have Vanished Out Of Sight
But Our Name Lives On In Spite Of Time And Tide

Something Must Be There To Keep Our Name Alive
Though The World For Centuries Has Been To Us Hostile]

Please get your Election id card and vote. That is the most powerful weapon we have.

Jai Hind (and not Jai Ho).

Cheers!"

domingo, 15 de março de 2009

Se voltasse aos bancos da escola estudava as redes sociais virtuais e o Facebook em particular

So pertenco a duas comunidades virtuais: Facebook e Linkedin. Uma por puro acaso. Outra por razoes profissionais.
Foi num comboio indiano de Patankot ate Delhi que comecou a minha viagem facebookiana. Com uma mulher com quem dividi a noite entre a sua primeira classe AC e a minha carruagem barata e superlotada, onde eu era a unica passageira feminina. Neelyma e jornalista, foi modelo e actriz de series televisivas na India. Vive agora na Australia. Passei aquela noite a fugir ao revisor que simpaticamente me deixou jantar em primeira, mas que me obrigou a dormir rodeada de homens por todos os lados, chao incluido. Cada vez que abandonava a minha carruagem alguem tomava o meu lugar. Mudei de cama tres vezes nessa noite. Foi Neelyma que me convidou mais tarde a entrar no Facebook.
O ingresso no Linkedin nao tem historia, nem memoria.
Recuso tudo o resto: orkut, plaxo, twitter e sei la mais o que. Nao tenho disponibilidade mental, nem emocional para mais. Reconheco que tenho pouca memoria RAM, que desinstalo facilmente o que me deixa de fazer falta e que possuo um mecanismo semelhante ao Unused desktop shurtcuts do Windows. Isto de me sentir parecida com os computadores deixa-me contente: menos lamechas e mais logico-racional. Cada um faz o que pode para se sentir melhor.
Adoro o Facebook tanto como a minha cerveja diaria. Esta muito bem desenhado. E obvio o esforco e as mentes brilhantes que lhe dao vida. Adoro cada mudanca, cada novidade. Tem o seu que de viciante, mas ate nisso joga a meu favor. Gosto de manter os vicios "under control". Sempre no fio da navalha.
E muito interessante observar os movimentos sociais que o Facebook produz entre os seus membros. Os grupos que se criam, as queixas que se geram. Privacidade e mudanca sao temas recorrentes.
E tambem curioso examinar o que sai das pessoas. O que revelam, o que escondem. Os fenomenos facebookianos encherao seguramente alguns tomos sociologicos e psicologicos.
As similitudes entre o real e o virtual e o que mais me fascina. Muito mais do que as diferencas e os temores de alguns.
Observo e actuo. Participo e distancio-me. Gosto dos dois papeis. Pendular como sempre. Lanco foguetes e brilho no ceu. Mergulho fundo a procura de seres marinhos abissais: http://www.youtube.com/watch?v=uDYM1ZfTojY
Gosto de contemplar padroes de comportamento, grupos e individuos, gostos e desgostos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Monotonia

E sempre o mesmo que redemoinha na minha cabeca.
Ha anos que o que amo e me agrada, que o que me incomoda e desgosta, que o que me entristece e diverte nao param de me (re)visitar. Vindos daquele lugar longe e escuro que carrego ha tantas vidas. Talvez um dia vejam a luz, montados num comboio de letras, as costas de vidas que nao a minha. Aqui tudo se locomove a vapor e as carruagens aguardam. Os passageiros sao ainda escassos.

Escrever

Pensamentos que se esfumam
Se nao os prendo ao papel ou ao ecran.
Minutos breves de mim
Que ninguem guarda.
Nem eu.

Perda

Nao ha dor como a da perda. Perda do que foi nosso. Perda do que tanto queriamos e nunca tivemos.
A perda e sempre do Amor.
Doi o amor que nao se teve no ventre da mae. Doi o carinho, o abraco, o beijo que se suplicou em silencio quando o mundo era ainda grande e nos rumamos contra tudo e contra todos.
Doi a morte do pai, da mae, do protector, do esposo, do filho, do amigo de sempre.
Doi a distancia que impede o Amor.
Doi o fim do amor que foi nosso.
Doi a ausencia do amor que mereciamos.
A perda e uma cova funda que nao se enche se nao de Amor.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Acaso

Cheguei a pagina 53 ha alguns meses atras. De Goa ao Kerala o livro “Como o acaso comanda as nossas vidas”, de Stefan Klein, ja habitou varias das minhas mesas de cabeceira. Estava em quarto lugar, na segunda pilha. Passou hoje para primeiro na primeira. Vou devora-lo agora. Tenho de aprender rapidamente a “tirar o melhor partido da mais aleatoria das forcas que nos regem”: o acaso. Assim tenha razao a contracapa.

Ha quem se conheca por causa de uma palavra. Ha ate quem se case por causa de uma palavra. Nesta historia, os culpados sao uma palavra redonda e oportunista e um incidente risivel. Disparada a roleta nao ha como recusar entrar no jogo.

Do nada aos segredos foi um pulo. E num flash, do hoje distante se viajou ate ao passado proximo.

Do nada cheio de cada um ate a teia apertada dos outros foi um passo. Num tempo de poucas linhas, o silencio injustificado fez todo o sentido.