terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Encontro I / Found I

A vida tem destas coisas e o Universo não tira sem dar.
Se perdi um pouco de mim no pedaço que foi arrancado ao coração do meu amigo, acabei de encontrar um pedaço do meu coração que me fugira há algum tempo.
Hoje o encontro deu-se sem presença, nem retorno.


Life is like that and the Universe never takes without giving.
I lost a bit of me which went attached to my friend's lost.
I found a piece of my heart which ran away some time back.
Today we met. No presence, no return.

Lost I

It has been a while I don't write except on projects' notebooks.
Death was, till May this year 2010 in Margão, India, the longer conscious inner insurmountable obstacle of my life. I lost my father when I was 17 years old and with his death my life dream died too but it took me 15 years to buried it and to be able to dream me again.
Last 10 years I lived in India where I dig deep, planted five beans like Jack and started to climb. Higher and higher I´m climbing, not reached the top so far nor the strange road that seems to lead to the magic hen, or maybe yes. India has given me friends and people that have reached my core in unimaginable ways.
A couple of hours ago I came to know that the girlfriend of a very special (Indian) man (to me) died at the age of 27. Their friends created a Facebook profile called "Remember (...)" X.
Death crossed my path in a different way today.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Esquadros de Adriana Calcanhoto

Esquadros
Composição: Adriana Calcanhoto

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
  
Renato Russo e Adriana Calcanhoto - Esquadros (1994)
http://www.youtube.com/watch?v=WfOu66jJG7I&feature=player_embedded   

sábado, 7 de agosto de 2010

My ambigram

My fellow Goawriters' group member, José Lourenço, did my manuscript ambigram, as you can see below.
He claims that it is actually easy to generate ambigrams. Software programs already exist for this. He found at least two. "One is seriffed and the other non-seriffed. But they produce rather complicated font structures that are difficult to read."
José finds better to use his imagination and come up with an original. "Its like a riddle and can take some time to come up with solutions. But if you know the person, its also fun to make the ambigram come alive with that person's character". I was the last in his first series. Mine was "an effort at minimalism, a la  Wendell" (Rodricks), where he celebrated "the sexuality of the woman". José pointed out how "nice was to see that there is an inherent symmetry, albeit a perceived one, even in our names." For him "it was a pleasure to sit with a pencil and actually scratch these images on a drawing pad. Because of continuous keyboard use we tend to lose touch with our manual skills."  
Upside
 Down
I loved his work!!! Thanks José!
I love the word ambigram. Not that I like ambiguous people, in the sense people who use ambiguity as a tool to be better opportunists. But all of us have innate inner ambiguities that we like or not and that can be a endless source of inner work or joy.

To be truthful at first I only saw the sandglass and took me some time to realize that time can be sexual too. Then I saw something else that reminded me of one of my photography works called "Man or Woman in the Temple":


I guess we both celebrate the same thing disrespecting its gender.



sexta-feira, 25 de junho de 2010

Silêncios estratégicos

Terei sido na adolescência uma rapariga de silêncios estratégicos. Há quem hoje me ache calada, no que ao cerne de questões deveras íntimas diz respeito. Outros acham que falo demais, outros que serei uma boa comunicadora. Contradições de mim, de que gosto.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A propósito de uma conversa entre pai e filho sobre a mãe deste (eu)


"Quanto à necessária hermenêutica da fotografia (auto)inscrita na fractura entre vestígio (fotográfico) e construção intencional, o que há a dizer? Desde logo, a intervenção como performance.
Coloquemos a questão de base: o que faz uma pacló num grupo auto-assumido como / como de Goa Writers? O que nos remete para a questão, o que é ser Goa Writers? A aparente transparência da auto-definição como Goa Writers Group rapidamente se torna opaca quando nos apercebemos de que ela remete mais para o que exclui (os não goeses) do que o que inclui. Note-se a forma subtil como isto é conseguido: aparentemente o grupo define-se pelo que inclui, os goeses. Mas isso é apenas aparente. É que não há definição de goês com o mínimo de consenso que a torne conceito operativo para a fundação de um grupo literário. Antes, a única forma de poder criar um grupo a partir do conceito de goês é pela exclusão do não goês, esta por sua vez resultante de um consenso mínimo em termos abelardianos – basta uma voz discordante para remeter o candidato para a não goanidade. 
Ora a pacló estaria excluída ipso facto da goanidade requerida para a integração no grupo Goa Writers (podendo aqui apelar-se ao gileano estatuto de evidência desta exclusão). Como compreender a sua pertença ao grupo? Por uma torsão conceptual de génio: ao antecipar ao estatuto ontológico da pertença a cisura performativa da presença, a pacló consegue reclamar uma goanidade em acto, sem nunca a concretizar em fala ou conceito. Simplificando, ao comportar-se como goesa , antecipa-se a qualquer questionamento dessa goanidade. Ao afirmar-se como goesa pela presença em acto no grupo Goan Writers, a pacló silencia qualquer colocação da questão ôntica e, por essa via, impede que a evidência – o seu não ser goesa – enforme a consciência colectiva e impede que a consciência subjectiva de cada membro do grupo ganhe voz e actue o seu inadequado estatuto ontológico. 
Não fosse a fotografia e nada disto seria presente a quem não tenha estado na reunião do grupo dos Goa Writers, o que demonstra de forma concludente o carácter evidencial constitutivo do suporte fotográfico. Note-se o contraste entre os membros do Goa Writers, goeses indiscutivelmente, falando como tais nessa linguagem pré-enunciatória que é o gesto e a expressão – postura laidback, sossegad, reclinada como é típico de corpos afeiçoados à cadeira Volt Air. Contraste total por parte da pacló, projectando-se no seu apossar de um estatuto que não é seu, invadindo das margens, de fora, impondo a sua presença. A evidência fotográfica nada sofreria com a sua ausência. Pelo contrário, a sua presença é claramente dissonante, violentadora. 
O estatuto único da fotografia enuncia-se assim plenamente no espécimem em análise. Ela adquire independência estética e emancipação enunciativa precisamente nessa capacidade de revelar e fixar a essência política do fazer-se fotografar. Recuássemos nós 5 séculos e registaríamos idêntica postura e idêntica violentação paclosiana do ethos goês no acto/agir/agente albuquerquiano." Sérgio Mascarenhas

How to proceed with the required hermeneutics of the present photograph, keeping in mind its self inscription in the fracture between the photograph as vestigial remain, and the photograph as intentional construction
For a start, by reminding that to be(long) is to perform.
Let’s ask the fundamental question:  What is a paklo doing in a group of/self-defined-as Goa Writers? Which begs the question, what is to be Goa Writers?
The face-value transparency of the self-definition as Goa Writers Group soon gets muddled and opaque when we realize that it is based more on what it excludes ( the non-Goans), than what it includes – a drift achieved in the most subtle way: At first sight the group self defines itself by what it includes, the Goans. But the hard fact is that there is no minimal consensus on a definition of Goan apt to work as the operational concept required to underscore the foundation of a literary group. Quite the opposite: The group is formed not through a shared concept of Goan, but through the exclusion of the non-Goan, an exclusion predicated on an Abelardian minimal consensus – a single dissonant voice being enough to deject the candidate to Goaness to the non-space of non-Goaness.
Needless to say, a paklo should be excluded ipso facto from the Goaness premised in the integration in the Goa Writers Group (an exclusion on which we could predicate the Gilean concept of evidence in re). Then, how to understand the inclusion of the paklo in the group? Due to an out-standing conceptual torsion: By a performative cut operated through presence she sidelines the ontological status of belonging. Thus the paklo is able to reclaim a Goaness in act, while never ever concretizing or reclaiming it in speech or concept. If I’m allowed to express myself in shallower utterances: By behaving as Goan, the paklo anticipates and precludes any questioning of her Goaness. By claiming herself Goan through her presence in act in the Goa Writers Group, the paklo silences any positing of the ontic questioning of that Goaness. Thus the evidence – her being non-Goan – is unable to shape the collective conscience. Thus she achieves a radical foreclosure of any possible expression of the subjective conscience of each and every member of the Group, an expression that could voice and actuate her unsuitable ontical status.
Wasn’t it for the photograph in question, none of this would be present to whoever was not present at the meeting of the Goa Writers Group. This, in itself and by itself, demonstrates in concluding terms the constitutive evidential character of the photographic medium. If proof was needed, all one has to do is to gaze at the contrast between the members of the Goa Writers Group and the paklo. The former indisputably Goans, expressing their Goaness in the pre-enunciatory language of gesture and expression: Laidback, sussegad posture, leaning as typical of bodies shaped by the Volt Air chair. In total contrast the disassembling paklo, projecting herself forward in her wilful self-possession of a status foreign to her, invading the shared geometry from the marginal outside, self imposed in the frame of reference. In fact the photographical referential space would loose nothing from her absence. To the contrary, her presence is clearly a dissonant rape-in-act.
Photography’s unique evidential status is thus wholly enunciated in the speciperson under analysis. Photography acquires aesthetical independence and enunciative emancipation precisely through that capacity to expose and fixate the political substratum of the act of photographing, of self projection in the photographic medium.
Were we able to move back five centuries, we would register an identical concluding demonstration of this political substratum in the identical formal posture and substantial paklosian violation of the Goan ethos by the Albuquerquian act/acting/agent. Translated by Sérgio Marcarenhas
http://groups.yahoo.com/group/goawriters/

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sobre o suicídio por Santiago Barrios

Com Santiago, psiquiatra que vive em Bogotá, Roxanne, designer de mobiliário brasileira a viver em São Paulo, e Rafael, fotógrafo espanhol com casa em Madrid, formei há cerca de dois anos um grupo no Facebook, denominado Couples Crisis Management,. Depois de um começo entusiasmado, onde todos os membros fundadores partilhavam a gestão do mesmo, o fogo inicial esmureceu, mas o grupo mantem-se ainda em actividade.
Santiago publica semanalmente um artigo na Semana.com intitulado Pura Vida, onde versas vários temas sempre abordados sob uma perspectiva psiquiátrica ou psicológica.
Esta semana o assunto é o suicídio. Porque conheço amigos, familiares e conhecidos que já passaram por perto ou mesmo por isso, porque eu mesma já aqui publiquei uma pequena nota sobre o mesmo, deixo aqui o artigo do Santiago que me parece deveras informativo: http://www.semana.com/wf_InfoBlog.aspx?IdBlg=35&IdEnt=2518
Boa Leitura!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Amitav Ghosh at Goa Writers' meeting


(from left to right in the floor: Fatima Gracias, Vivek Menezes, Xavier Cota, Sucheta Potnis, Cecil Pinto, Damodar Mauzo, Alito Siqueira, Patricia Alvares,  Neeta Deshpande, Melinda Powel, Sachin Chatte; at the back seated: Amitav Ghosh, Himanshu Burte, Mafalda Mimoso)

Here is a picture of Amitav Ghosh at my studio in Panjim where were held most of Goa Writers meetings. I am the last one on the right side (blond short hair). I do miss GOA!

"Ghosh was also lavish in his praise of the Goa writer’s group which meets in Panjim regularly. “The discussions I’ve been to are some of the most interesting and informed discussions on literature anywhere in the world,” he said."

Amor felino

Quem aprendeu a amar com os gatos gosta do ronronar quente no colo e sente falta do nariz frio. Quem aprendeu a amar com as pessoas gosta da palavra funda e tem saudades dos beijos múltiplos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Nos degraus da carne pura

Parou-a no meio das palavras:
Tinha de falar ali, em sons e sem olhos
Do que a move e eleva.
Não falou. Incapaz.
Não foi vergonha moral
Foi medo do desperdício.
Não foi insegurança de si
Foi o desmoronamento eminente.

Terreno e carnal
Ele fala, ela faz.
Elevado e fundo
Dele não se conhece
Ela assim o pensa e sente.

Da pele e dos gemidos
Das palavras imperativas
E dos dedos enterrados
Abre as pernas para sair de si.
O passo é incomensurável
Sempre além
Empurrando os limites.

Beijou-a beijos diversos.
Beijos que guardou em caixinhas
Beijos que sabe não conter.
Sentiu os seios cheios e tensos
Recordou domínios
De pedaços de si.

Entrou nele
Cheia de prazer
Agarrou-o por dentro
No domínio presente.
Controlando aqui
Gozando sempre
Ainda que nas suas mãos.

Ele brinca com ela
Directo e mordaz.
Ela escorrega nas curvas
Dos cérebros, despreocupada
Solta, feliz.

É no corpo
Veículo de outros deuses
Passagem estreita
Ritual sinalagmático
Que tudo pára

Antes

De nos olhos
Se elevarem
Trepando nos degraus
Da carne pura.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

domingo, 10 de janeiro de 2010

Vendada

Vendo-me todas as manhãs para lhes olhar o âmago. Cega aos olhos do mundo resta-me o toque das almas.
Tangíveis, a razão e a emoção defendem-me da incerteza terrorista. A venda jaz inútil enquanto durmo.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Fim

Esmago-me contra os meus braços
Contorço-me debaixo do peso que é teu
O ser inteiro transporta-se sem ti.
Cravas os olhos vítreos nos meus
E nestes ombros os teus dedos finos e frios
Gritam que é o fim.
Sorrio vencedora
Não há mais labirintos nem cápsulas espaciais
Já não se espera.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Liberdade de Imprensa em Portugal

"Tão simples como isto: os jornalistas devem dar-se ao respeito. Obviamente que trabalhamos numa área de mediação entre vários campos e interesses. Obviamente que estamos em zonas de choque. Obviamente que lidamos hoje com aparelhos de comunicação poderosíssimos. Há sempre pressões mas o importante é que o jornalista saiba viver com elas. Embora reconheça que nos últimos anos a liberdade de imprensa tem sido alvo de ameaças sérias, também me parece que os jornalistas não devem ter medo." António José Teixeira, director da SIC Notícias

http://www.ionline.pt/conteudo/40856--liberdade-imprensa-tem-sido-alvo-ameacas-serias

Artistic Freedom and Self-Restraint in India by Fakeer

"As for self-restraint being exercised by artists, in India the shoe is very much on the other foot – it is the self-proclaimed defenders of religion and community feelings, rather than artists, who need to exercise self-restraint."
http://fakeer.wordpress.com/2010/01/08/artistic-freedom-and-self-restraint/