quinta-feira, 4 de março de 2010

Musa

Quem me inspira, guia-me dentro de mim.

2 comentários:

  1. Tens muitos guias à tua volta...só tens de escolher o melhor para ti...

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  2. ...a inspiração é, sobretudo, de origem divina; corresponde à acção de uma Musa (do latim in-spirare, soprar para dentro) que era frequentemente invocada, por exemplo por Homero na sua Odisseia, para soprar ao poeta as palavras do segredo. Este divinitus inspiratus, como lhe chamavam os latinos (ou divine afflatus), é também referido por Platão, para além de Aristóteles, no Ion, onde o poeta é possuído pelo daimon ou entheos, de onde lhe vem o furor divino que se propaga, como por um íman, ao rapsodo e aos que o escutam. Este será também o conceito, herdado dos clássicos, aceite durante o período renascentista e predominará até finais do séc. XVIII, altura em que se dará mais importância à segunda teoria: atribui-se a inspiração ao trabalho individual de génio. É também a partir deste momento que se verifica uma laicização progressiva do conceito de inspiração e será a poiesis artística o exemplo privilegiado da criação. Agora a principal fonte da actividade criativa, como explica a psicologia e teorias de psicanálise, é o inconsciente ou o subconsciente e a inspiração representa a forma nobre da alienação. É neste sentido que Jean Fretet, ao referir-se a Rimbaud, Mallarmé e Marcel Proust, fala de alienação como a voz do «Outro» à qual o poeta obedece e se submete, sendo esta voz ditada pelo seu corpo doente (Aliénation Poétique, 1946).

    Kant (Crítica da Faculdade do Juízo, 1790), ao interrogar-se sobre a natureza do génio dirá que se trata de um talento para a arte e não para a ciência. O génio é concebido como o ingenium, ou seja, como «une certaine disposition de l'esprit».É uma faculdade nativa, um dom natural atribuído pela natureza a seres «especiais» que assim são «abençoados» pela imaginação e conhecimento. Por seu lado será a natureza a ditar as regras do jogo no que respeita à arte e à sua criação: são regras únicas, impossíveis de conceptualizar e de comunicar, e só o génio tem o privilégio de ser inspirado por elas. Também a este respeito, Michel Guérin diz que «le génie est la faculté de réaliser sans modéle», uma vez que ele detém esse poder (Le Génie du Philosophe, Édition du Seuil, Paris, 1979, p. 23). Por este motivo o génio move-se na esfera do concreto, isto é, da criação. A criação, por sua vez, supõe a relação inseparável entre o modelo e a realidade, a matéria e a forma, justificando-se , deste modo, o porquê da natureza como paradigma da criação...

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