domingo, 23 de janeiro de 2011

Confirmação

Que me perdoem a vaidade de de mim falar, ousando aceitar o dom que em mim alguém já havia enontrado. Mas a vida traz-me confirmações que não posso desprezar. Nos últimos dias estive com duas mulheres que conheço há mais de dez anos e de quem sempre tive uma clara (e positiva) opinião - quiçá conhecimento intuitivo - nem sempre secundado por muitos. Os anos passam, os reencontros acontecem, a intimidade estreita-se e o âmago que de ambas vislumbrei no primeiro momento aflora brilhante, seguro, ao fundo do túnel mais ou menos curto.
São estes os sinais em que procuro confiar cada vez mais cegamente e são estas as confirmações que me fazem sentir que piso o caminho certo.

Aforismo

O presente é onde tenho um pé desejoso de seguir o que já se adiantou e ainda no ar caminha para o futuro.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mãos

As mãos são muito bonitas.
Conheço umas assim, espero por elas.
Renascerão... como tudo em mim.

A propósito do seguinte post no Facebook e respectiva foto ilustrativa do mesmo:
 
"(...) nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrém os pensamentos vi...vidos em silêncio. Um amor feliz precisa de turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que seja tantas vezes fútil,tantas vezes inútil."
Miguel Sousa Tavares, in "Não te deixarei morrer, David Crockett"

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Diário de uma viagem pluvial

Não me atrai a escrita diarística a que os blogs supostamente apelam. Aliás continuo, como no dia em que este criei, a não gostar de blogs nem da tendência actual para a auto-expressão. Mas como sou um poço de contradições e no que faço e quero e penso e escrevo procuro encontrar uma razão, não deixo de fazer, querer, pensar e escrever para que a razão não se intimide e se esconda para mais tarde, para tarde demais ou para sempre.

Hoje o dia ofereceu-me surpresas inusitadas como só uma viagem pluvial forte e pública o podia fazer.

Descobri que se pode ter vinte anos, ser um rapaz giro, atraente e bem arranjado e nunca ter aprendido a fazer balões com pastilha elástica. E que uma namorada doce e assertiva, dando instruções precisas, podia fazer milagres; não fosse esse o seu entretém antes de aparecerem os Gameboys. Cá em casa só a filha mais nova de seis anos sabe fazer balões: sai à mãe, digo eu, e ainda não tem Magalhães nem Nintendo. Mãe que intui agora que talvez os seus outros filhos venham a aprender a fazer balões com pastilha elástica daqui a dez anos num banco de Metro ou de TGV.

Encontrei também uma mulher que conheço de partilhas de poemas, músicas, eventos, de histórias de mães e de pessoas, de preocupações e satisfações, de gostos e comentários. Outra vez debaixo do chão, veio ao de cima essa coisa má que é o subterrâneo e escuro Facebook, rei das redes sociais e demónio das relações pessoais. Não deixa de ser interessante olhar nos olhos de alguém que conhecemos parados, diversos mas sempre congelados, e para os quais olhamos o tempo que quisermos. Ali, eu no vai, ela no vem ou vice-versa, pouco importa, os nossos olhos tocaram-se e reconheceram-se. De fugida, dezenas de expressões correram, poucas palavras se trocaram. Fizemos uma promessa, que já haviamos incumprido no mundo virtual. Talvez a realidade faça a diferença.

Voltei à superfície alagada, atrasada, enganada. Perdi-me. Subi escadas cujas águas me diziam que ia contra a corrente. Deslizei por calçadas luzidias, onde a água dos céus desaparecia por entre as pedras. Desci escadas cuja torrente de água me cobria os pés mas me ensinava o caminho certo.

Desci olhando apenas as pedras, os degraus, o pequeno dilúvio,
Parei no fim, levantei os olhos e li as palavras certas,
Encontrei o lugar, o atraso e vesti-me
Para caminhar no arame sem cair.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Filamento redondo

Era um pequeno seixo, redondo, 
rolando entre as folhas das árvores. 

Dois pulmões cheios de sorrisos e apertos,
Um fogo escondido ardendo sem aquecer.
Tábuas em equilíbrio desenhavam vértices,
Que a luz intermitente descobria. 

Um filamento verde rompeu, frágil,
escapando ao rodado largo.