terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dei à costa

Dei à costa
farto de nadar sozinho
farto de correntes e vagas
farto de me cruzar com iguais
de olhos brilhantes, reluzentes, ondulantes.
 
Dei à costa
cansado de nadar e não chegar
cansado da caça e das fugas
cansado da rede e dos anzóis
cujas feridas o sal sempre curou ardendo.

Dei à costa
parei de nadar
e agora espero a maré
que me deixará na areia molhada
ainda peixe, ainda vivo
que o que quero é morrer.

Quero que me apanhem fresco
vermelho onde filtro o que também me dá vida
quero me escalem simetricamente
e me deixem aberto, salgado e seco.

Quero que me esventrem, me tirem as vísceras
que me abram de par em par
e me pendurem para secar
que a lareira está longe
e não me poderiam tomar.

Praia das Maçãs, 13 de Agosto de 2011

         Mafalda Mimoso 2010

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