sábado, 2 de julho de 2011

Uma carta de amor, uma dor e algo maçador, ou sobre a velocidade

Os dias têm corrido cheios e neles estas letras não têm cabido. Cutucavam a mente e esta cutucava a caixa e os ossos da alma doíam de rejeição.
A musa deu à costa, trocou algumas palavras; só duas ou três criaram o lastro destas e de outras.
Seguramente que hoje se escrevem menos cartas de amor. O papel serve para firmar contratos, mandar facturas e recibos. Há amarras que julgam ter mais força porque no papel se veem como prova. O que gosto nas cartas enviadas por correio postal é o seu ritmo. Entre o ir e vir há necessariamente dias, e a lentidão da resposta sempre pode ser atribuída aos serviços. Um email de amor, só na sua designação arrepia, mas carta electrónica não me parece melhor substituto. Deixemos os nomes das coisas, que é a expectativa da velocidade da resposta que altera tudo. O amor fica mais ansioso e não há server que justifique mais do que umas horas de atraso.
Olhar a lentidão e a rapidez a tricotarem-se, desejosas de criar uma peça única, é um espectáculo de final inesperável. Pode o fim ser uma dor imensa, uma ruptura triste, um desaparecimento antecipado, deixando para trás risos e sorrisos, imagens e desenhos, actos puros, naturezas atípicas e a troca final de palavras amargas e acusatórias. Pode também não passar do cós de tão maçador parecer o ponto retorcido que sem se decidir as agulhas entrelaçaram.

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