terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma história de resto

há uma intimidade feliz
que se montou num foguete
e rebentou numa só cor
sem alarido
não foi à vista de todos
e por menos ainda se fez audível
há sempre quem prefira não ver
e quem tenha os ouvidos almofadados
o que fizera na primeira vez que ousou
quando saltou a muralha
e deu a mão à menina que encontrou
nunca mais voltara a acontecer
a menina caíu
e a mão desapareceu
e a vida é uma oportunidade única
e a menina voltou a levantar-se sozinha
e daquela mão só voltou a ver
os dedos acusadores
fôra talvez impressão
forte demais para só parecer
para não se sentir
para não deixar marca
foi a primeira mão
que a menina viu
havia tanto tempo
parece que a mão está lá sempre
mas à menina foi pedido
esforço para a agarrar
e a menina pediu então
o que recebera e lhe fôra tirado
sem pedir
mas a menina voltou a dormir 
com as mãos junto ao peito, entrelaçadas
e com ar de mimo deixou de estender a mão
mimo não é capricho
e também não é mimo, é medo
há que proteger o lugar onde reside o ser
não estará a menina
a estender a mão agora?
a menina acocorou-me na praia
quando viu o barco partir
zangada ou triste, nem sabia
acertou com algumas pedras no casco
crescer é ser
não é saber viver
união é partilha de resto zero.

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