quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Do uso e desuso exagerado

Vivemos tempos emotivos. As emoções afloram aos felizardos e os tristes não as tiram do saco.
De tanto se querer uma paixão acaba-se apaixonado e o amor anda solto na boca dos mais elevados.
Confundidas as árvores com as florestas, o verde luxuriante fere os olhos dos mais cuidadosos e as feras que por lá habitam afastam os medrosos.
Não sei se cite Fichte, Hegel ou Marx, ou se me deixe de filosofias e me baste a psiquiatria. Não sei se dá tese, se pula para a antítese, para cansados de tanto balançar nos encontrarmos no ponto morto da síntese. Talvez me socorra da agora tão divulgada e promovida doença bipolar e com base nela construa um equlíbrio estatístico com os valores médios das grandes amplitudes. Todos vivem de excessos e exageros.
As emoções desenfreadas lembram-me os filmes americanos onde mulheres gritam de desespero e os homens dão pontapés e murros a portas e cadeiras. Não acredito que com isso queiram apelar ao descontrolo nem ao exagero, mas tão somente ao limpar da alma para se poupar no psico-terapeuta, que daqui parece tão necessário a esse mundo extremo-ocidental. E suspeito que gritos e murros não se aplicam apenas aos que não possuem capacidade introspectiva, nem financeira para se afoitar a tais fundos e psíquicos mergulhos.

 ██ Países geralmente considerados parte do mundo ocidental

Há depois os poetas que conseguem abraçar o todo das emoções e do amor e da paixão e os oferecer àqueles de braços grandes e colo ardente.
Há ainda os da velha nova era que difundem o amor simples por todas as coisas, como já tantos o fizeram de forma religiosa.
E assim chegamos aos outros, a tal massa uniforme e disforme, regida por poucas ideias e pelos valores externos, com limites de sã convivência pré-fixados, critérios de saúde pública definidos, intimidade e individualidade certas e seguras. Sempre sem exageros, nem particularidades, para facilitar a gestão e evitar aborrecidos e demorados esclarecimentos.
E por fim surgem os que às costas carregam várias caixas, umas arrumadas outras não, mas sempre as suas e sempre construídas e mantidas pelos próprios. Gosto quando batem à minha porta, poisam as caixas, levantam as tampas e me maravilham com o que já arrumaram, com o que estão a arrumar, sempre cheios de histórias entrelaçadas, às vezes sem nada mais do que caixas dentro de caixas. Gosto quando seguram na minha mão e me tocam as caixas que carrego como eles.


                                                           ©Mafalda Mimoso

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