terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Adeus ao precipício

As pontas dos pés na berma
A chuva ensopando o cabelo e o casaco grosso
O vento dobrando o chapéu de chuva branco
E lá em baixo a água escura chamava.

Ouviam-na os pensamentos
Que os gritos das crianças
Agarradas à saia travada
Puxavam no sentido oposto

Correu entre as bermas
Atrirou os miúdos à água
E ficou a olhar para dentro

Sentou-se e as pernas caídas
Ficaram mais perto da voz

O vento desenhava letras na chuva
As tempestades duplicavam-se

Letras substitutas, perturbadas
Letras certas, decididas
Letras libertadoras, pesadas

Tirou os miúdos da água
As pernas voltaram à berma
Disse adeus ao precipício
E desfigurada largou os sentidos

Apanhou-os no dia seguinte
Ao sol, secos e corados
Depois da incerteza
Chegara a bonança

3 comentários:

  1. Gostei muito..."o vento desenhava letras na chuva", lindo!

    Rita

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  2. Também gostei muito. Há precipícios que afloram do nada. Nunca vão de vez, raramente ficam de vez. :)

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  3. Pois é Rita há tanta coisa que deixamos de ver. E Cristina, do nada tanto vem e pouco vai.

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