quarta-feira, 2 de março de 2011

Inútil

Dizem-me as musas porque me fogem.
E com toda a razão me dizem,
Que é porque inspiram melhores obras.

Sim, porque as musas também querem resultados,
E que tem de valioso uma obra para quem a inspira?
Nada, que vive escondida aos olhos do mundo
E dos olhos daquele que a não larga
se enfarta vazia.

Melhor seria um jantar às luz das velas
E champagne com lençóis de seda.
Melhor seria a mentira branca que todos perdoam
E a ninguém magoa.

Melhor ainda seria
O retorno da maçada
Em clientes para o negócio,
Emprego para a vida.

O toma lá dá cá
Indolor e não friorento
Que musa não é modelo
E a nudez que se procura
Não é aquela que a pele mostra.

Antes o vómito provocado
O externo cerrado
Pinças afastando a pele e a carne
Que a vida não tem preço
E preço tem o olho que a prende
E o traço que a descreve.

Quem inspira leva para dentro
o ar que não respira
os males que não lhe doem
as dúvidas que não lhe assolam.

Como se pode então pedir
que o sofrimento se finde
a quem sofre esclarecido
de tão inútil padecimento?

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