quinta-feira, 10 de março de 2011

A propósito das Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa

Há uns anos fui convidada para ilustrar com fotografias minhas um livro de poemas intitulado A Vingança de Eva e há umas semanas aconselharam-me ler o livro Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa. O livro chegou a mim na semana passada.
Li ontem de uma assentada um quarto deste último, sendo que já tinha lido duas ou três páginas dias antes sem grande entusiasmo, as quais ontem reli novamente para não opinar esquecida das primeiras. Na passada sexta-feira desmontei uma exposição, com algumas das referidas fotografias, a que dei o nome de "um Amor Feliz". O meu trabalho fotográfico foi tirado, a meu pedido, do prelo no último minuto digital, acabando por só agora ver a luz, desta feita nas paredes brancas e não nas folhas manchadas de texto.
Há nestas duas experiências várias coisas em comum. Partiram ambas de mulheres, mulheres bem diferentes de mim, mulheres bonitas, atraentes, que sabem emanar segurança, força, combinando a espaços altivez com doçura uma e a outra com sedução e domínio puros. Mulheres que olham para mim e para os homens como eu não olho. Mulheres e jogos de espelhos.
À poetisa, a quem não fui capaz de dizer que não gostava dos poemas apenas porque padeciam de uma incompatibilidade visceral e racional comigo - não porque estivessem mal escritos, o que em abono da verdade eu não podia aferir convenientemente porque estavam redigidos em inglês e o livro editado/revisto por um homem anglófono com grande experiência e competência literárias - só consegui dizer que nós sentíamos e pensávamos e escrevíamos os homens de forma diametralmente oposta. O que a movia naqueles poemas e na vida, até então pelo menos, era o ódio pelos homens e que por eles, generalizando, eu nutria admiração e o que me movia era o amor.
As mulheres na minha vida entram para me dar indicações. Como se ao volante eu parasse sempre ao pé de uma e lhe pedisse, ou ela me indicasse, o caminho para o local a que me destino. Mulheres e quatro estradas.
São poucas as mulheres companheiras, que se sentem ao meu lado e que ao meu lado queiram continuar a caminhar. Ocorrem-me agora duas nas quais reconheço o respeito e a igualdade como o pilar de cada uma das ligações. À primeira acrescentaria a admiração, à segunda o entusiasmo.
Quanto ao livro de Llosa, foi imediata a minha simpatia por Ricardo e o desagrado pela Menina Má. Foi o livro me aconselhado, obviamente, pela associação entre mim e tal menina. Que eu me lembre fui má uma vez, por medo. Fui atroz e desculpei-me até à exaustão e sei que deixei para trás uma ferida que se fechou devagar curando-se com memórias paradoxais. Não sou a Menina Má, sem nome, nem identidade, cujo destino me parece, ainda vou na página 77, ser o de fugir dos seus sentimentos, usando os homens como lianas.
Os homens são presença estável e contínua na minha vida, mente, corpo ou trabalho. São porto-seguro, catalisadores, musas, companheiros. Homens e estradas. Viagens.
E assim se complementam em mim as estradas e os cruzamentos, o asfalto e os semáforos, os mapas e os destinos, o que sou e o que pareço, as palavras e as imagens.

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