terça-feira, 1 de março de 2011

Viagens sem destino geográfico

I
Há numa estrada livre e solarenga que se abre à nossa frente um convite quente inimaginado. A surpresa a que as palavras conduzem, as máquinas que fazem voar, as casas que se abrem e ossulcos que se rasgam confirmam que por entre os nossos dedos escorre uma memória inolvidável, um desafio ganho, uma probabilidade rara, a rotina julgada inquebrável. A luz ilumina pela primeira vez um dos cantos da casa e faz sorrir as flores guardadas em duas jarras. As pétalas viram-se do avesso, elevam o perianto, tragando a luz que se sabe breve. Gira o sol, nada se semeia e as máquinas voltam a voar sem regresso marcado.

II
Altera-se o próximo destino, que não se aguentam mais paredes forradas da mesma gente. Nova máquina voadora, outra viagem entre tempos. Seduzem as imagens e os lábios, observam-se os ombros e os dedos, apalpam-se os cérebros, abre-se outra casa. Novamente a sós, tira-se a cor à roupa, não há ali flores nem jarras. Com palavras faz-se a ressonância possível. Vende-se papel, projecta-se o presente e imagina-se um roteiro romântico em Lisboa. Roda o relógio, marca-se o próximo voo, a planta cresceu e quer ser agora congelada viva.

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